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segunda-feira, 6 de julho de 2015

David Hare, um dos principais nomes da FLIP de 2015, critica o acesso de escritores ao cinema americano


O dramaturgo inglês David Hare, indicado ao Oscar em duas ocasiões, afirmou na sexta-feira (3) que o crescente sucesso das séries de televisão se deve ao fato de "o roteirista ser o principal artista", mas que Hollywood ainda resistem a dar espaço aos escritores: "os diretores de Hollywood não aceitam que os escritores estejam no comando".

Hare, um dos principais nomes da FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty), assegurou em entrevista coletiva que os autores "estão tomando o poder" nas telas, mas afirmou que o teatro jamais conseguirá a "velocidade narrativa" de produções como "Mad Men" e "House of Cards", que vêm conquistando milhões de espectadores.

Conhecido por suas obras de tom político, Hare se mostrou contundente ao dizer: "Meu trabalho teve algum efeito na política? David Cameron e o governo de extrema direita que temos são a resposta".

O roteirista de 'As Horas' (2003) e 'O Leitor' (2008), que ostenta o título de 'Sir', se mostrou, no entanto, encorajado porque "pelo menos haverá um registro de que nem todo mundo está de acordo com quais são os valores da sociedade na qual vivo".

A melhor forma de reclamar é, para Hare, a dramaturgia, já que confessou não estar "interessado em escrever romances" porque nunca quis "fazer descrições".

Segundo Hare, "discutir sobre a sociedade no teatro não é incomum na Inglaterra" e que a "vantagem do teatro é que você tem uma rápida resposta" do público, um 'feedback' que o encanta quando consegue arrancar a cultura "do pequeno gueto" no qual se esconde.

No entanto, o dramaturgo não se deixa levar quando alguém lhe diz que suas obras transformaram sua vida, pois, disse que sabe que eles "querem ser agradáveis comigo, mas pode ter sido uma tempestade que mudou seu estilo de vida".

Hare acrescentou que adora quando lhe dizem que "sua obra fez com que eu me tocasse que não estava louco porque acreditava que era a única pessoa que pensava assim".

Sir David Hare é, aos seus 67 anos, um dos poucos que ainda dizem usar caderno e caneta para escrever, já que - em sua opinião - a tecnologia "piorou as coisas". "Agora tudo ficou chato e os livros são muito grandes, um acúmulo de palavras que se examina. Sou totalmente contrário a escrever em um computador", concluiu.

Hare participa neste sábado de um encontro com o público da Flip.

quarta-feira, 11 de março de 2015

Você sabia que Tim Burton vai dirigir adaptação de "Dumbo", da Disney?


O diretor Tim Burton vai dirigir o novo filme do "Dumbo", que será live-action (com atores reais). O longa será baseado na animação clássica da Disney de 1941. A informação foi divulgada no site da revista "THR". 
O filme terá uma mistura de efeitos especiais com atores reais para contar a história do bebê elefante de circo, que é ridicularizado por suas orelhas grandes mas descobre que com elas é possível voar. O longa contará com a participação de Ehren Fruger, que escreveu o roteiro de "Transformers" e Justin Springer, de "Tron: O Legado" e "Oblivion".
 
A Disney está adaptando para os cinemas com atores reais a maioria de suas animações clássicas. Neste mês estreia "Cinderela", com Lily James no papel título. Outros longas que também já foram adaptados pela Disney foram "Alice" (também dirigido por Tim Burton) e "Malévola" (com Angelina Jolie). 

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

As musas de Pedro Almodóvar


A atriz argentina Cecilia Roth foi protagonista de diversos filmes de Almodóvar, incluindo 'Labirinto de Paixões' (1982), 'Maus Hábitos' (1983), 'Que Fiz para Merecer Isto?' (1984), 'Tudo Sobre Minha Mãe' (1999), 'Fale com Ela' (2002) e 'Os Amantes Passageiros' (2013).

Uma das mais famosas atrizes espanholas, Carmen Maura trabalhou em muitos filmes de Almodóvar nos anos 80: 'Pepi, Luci e Bom' (1980), 'Maus Hábitos' (1983), 'Que Fiz para Merecer Isto?' (1984), 'Matador' (1986), 'A Lei do Desejo' (1987) e 'Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos' (1988). Em 2006, ela voltou a trabalhar com o espanhol em 'Volver'.

Outra eleita de Almodóvar é Rossy de Palma. A atriz trabalhou em filmes como: 'A Lei do Desejo' (1986), 'Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos' (1988), 'Átame!' (1990), 'Kika' (1993), 'A Flor do Meu Segredo' (1995) e 'Abraços Partidos' (2009).

A bela espanhola Victoria Abril trabalhou com Almodóvar pela primeira vez em 'A Lei do Desejo' (1986). Depois disso, a atriz foi estrela de filmes como 'Ata-me!' (1990), 'De Salto Alto' (1991) e 'Kika' (1993).

Marisa Paredes acompanhou Almodóvar em todas as fases de sua carreira. A atriz espanhola trabalhou nos filmes 'Maus Hábitos' (1983), 'De Salto Alto' (1991), 'A Flor do Meu Segredo' (1995), 'Tudo Sobre Minha Mãe' (1999), 'Fale com Ela' (2002) e 'A Pele que Habito' (2011).

A mais famosa muda do diretor espanhol, Penelope Cruz, trabalhou com ele em cinco filmes: 'Carne Trêmula' (1997), 'Tudo Sobre minha Mãe' (1999), 'Volver' (2006), 'Abraços Partidos' (2007) e 'Os Amantes Passageiros' (2013). Cruz costuma dizer que foi um filme de Almodóvar, 'Ata-me!' (1990), que a fez se decidir pela carreira de atriz.

Parceira de Almodóvar desde os seus primeiros trabalhos, Chus Lampreave é uma das atrizes que mais trabalhou com o diretor e fez parte do elenco de 'Maus Hábitos' (1983), 'Que Fiz para Merecer Isto?' (1984), 'Matador' (1986), 'Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos' (1988), 'A Flor do Meu Segredo' (1995), 'Fale com Ela' (2002), 'Volver' (2006) e 'Abraços Partidos' (2009).

A bela Blanca Suárez começou sua carreira em 2007 e já fez parte do elenco de dois dos filmes de Almodóvar. A nova musa do diretor trabalhou em 'A Pele que Habito' (2011) e 'Amantes Passageiros' (2013).

A espanhola Carmen Machi trabalhou com Almodóvar em três ocasiões nos anos 2000: 'Fale com Ela' (2002), 'Abraços Partidos' (2009) e 'Amantes Passageiros' (2013). A atriz também é estrela do curta metragem 'A Vereadora Antropófaga' (2009), uma história paralela originada em 'Abraços Partidos' (2009).

Lola Dueñas é outra atriz que começou a trabalhar com Almodovar nos anos 2000 e se tornou queridinha do diretor. A espanhola atuou em 'Fale com Ela' (2002), 'Volver' (2006), 'Abraços Partidos' (2009) e 'Amantes Passageiros' (2013).

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Altos e Baixos de Tim Burton - filmografia completa


Um dos diretores mais macabros de Hollywood nasceu no fatídico mês de Agosto no dia 25 em 1958. Sempre flertando com o nonsense e o terror o diretor tem predileção pelos atores Johnny Deep e Helena Bonham Carter com quem mantém um relacionamento sério desde 2001. Depois de cursar Animação por três anos, Burton foi contratado pelo Walt Disney Studios como aprendiz de animador e trabalhou no desenho 'The Fox and the Hound' (1981). Nessa época, o diretor fez seus três primeiros curtas-metragens: a animação em stop-motion 'Vincent' (1982), e dois live-actions, 'João e Maria' (1983) e 'Frankenweenie' (1984). E foi por conta desse último filme, que mostrava um cachorro morto sendo ressuscitado como Frankenstein e foi considerado muito sombrio, que Burton foi demitido.

Durante sua longa carreira o diretor teve altos e baixos. Confira sua saudosa filmografia abaixo:


Poucos anos depois, Tim Burton uniu seu gosto pelo horror com o talento para comédia e dirigiu o filme 'Os Fantasmas se Divertem' (1988). Apesar do baixo orçamento, o longa, que contava a história de um casal recém-falecido que contratava um bio-exorcista para expulsar os novos proprietários de sua casa, fez bastante sucesso e o personagem principal, Beetlejuice, ganhou uma série de desenhos animados na TV.


Graças ao sucesso de 'Os Fantasmas se Divertem' (1988), Tim Burton foi convidado para dirigir o blockbuster 'Batman' (1989) e posteriormente ' Batman - O Retorno' (1992). Os filmes, baseados no personagem da DC Comics, não tiveram uma boa recepção e contaram com Michael Keaton no papel do homem morcego e Jack Nicholson e Danny DeVito nos papéis dos vilões Coringa e Pinguim, respectivamente.


Com a carreira em alta, Tim Burton resolveu investir em um projeto pessoal: 'Edward Mãos de Tesoura' (1990). O longa trás muito de influência de Frankenstein de Mary Shelley e O Drácula de Bram Stoker econta a história de um rapaz que tem tesouras no lugar das mãos, foi a primeira das oito parcerias do diretor com o ator Johnny Depp. Vale lembrar que o cantor Michael Jackson comprou as famosas mãos de tesoura usadas por Depp no filme, para mais tarde leiloa-las em um evento beneficente.


Depois de dirigir a cinebiografia 'Ed Wood' (1994), a homenagem aos filmes B 'Marte Ataca!' (1996) e a adaptação de 'A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça' (1999), Tim Burton foi convidado para readaptar o clássico do cinema 'Planeta dos Macacos' (2001). O longa, além de ser um verdadeiro fracasso de bilheterias, recebeu incontáveis críticas negativas. Este foi o primeiro de vários filmes em que o diretor Tim Burton e sua mulher, a atriz Helena Bonham Carter, trabalharam juntos.


Após o fracasso, Tim Burton recuperou parte do prestigio ao dirigir 'Peixe Grande e suas Histórias Maravilhosas' (2003). Muito elogiado pela crítica, o filme conta a história de um antigo vendedor itinerante do sul dos Estados Unidos com um incrível dom para contar histórias, que em seu leito de morte tenta se reaproximar do filho. O longa foi indicado ao BAFTA e ao Globo de Ouro nas categorias de melhor filme e melhor diretor.


Baseado num conto russo-judaico do século XIX e ambientada numa fictícia Inglaterra da era vitoriana, o filme em stop-motion 'A Noiva Cadáver' (2004) foi indicado na categoria de melhor animação na 78ª cerimônia do Oscar. O longa conta a história de um jovem que está prestes a se casar e termina acidentalmente se casando com a Noiva-Cadáver, que o leva para conhecer a Terra dos Mortos.


A readaptação do clássico 'A Fantástica Fábrica de Chocolate' (2005) trouxe Johnny Depp no papel de Willy Wonka, o excêntrico dono da maior fábrica de doces do planeta, que decide realizar um concurso mundial para escolher um herdeiro para seu império. O filme foi sucesso de bilheterias e arrecadou mais de 200 milhões de dólares só nos Estados Unidos.


'Sweeney Todd - O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet' é mais uma parceria de Burton com Johnny Depp. A sombria adaptação do musical da Broadway conta a história de Benjamin Barker, homem que passou 15 anos afastado de Londres e retorna à cidade com sede de vingança sob o nome de Sweeney Todd. Como Meryl Streep, Cyndi Lauper, Annette Bening, Toni Collette e Emma Thompson foram cotadas para dar vida à Sra. Lovett, Helena Bonham Carter enviou ao compositor Stephen Sondheim 12 fitas de audição em que estava cantando para evitar acusações de nepotismo, já que na época ela estava grávida de seu segundo filho com Tim Burton.


A muito esperada adaptação de 'Alice no País das Maravilhas' (2010) faturou um bilhão de dólares no mundo todo, transformando-se no mais bem sucedido filme de Tim Burton. Baseado nos famosos livros de Lewis Carroll, o longa não foi muito bem recebido pela crítica. A atriz Mia Wasikowska derrotou algumas candidatas famosas que se candidataram para interpretar Alice, entre elas Amanda Seyfried e a polêmica Lindsay Lohan, que fez de tudo para conquistar o papel.


Depois do enorme sucesso de 'Alice no País das Maravilhas' (2010), Tim Burton teve que lidar com o relativo fracasso de 'Sombras da Noite' (2012), filme baseado na novela sessentista 'Dark Shadows' criada por Dan Curtis. Contando com a participação da deslumbrante e maléfica Eva Green e do saudoso Jonny Lee Miller - o saudoso Sickboy de Trainspotting - o filme narra uma aventura sombria que cumpre o seu papel: diverte. Depois disso, Burton voltou a se dedicar às animações e refilmou seu curta-metragem de 1984, 'Frankenweenie' (2012), além de começar a trabalhar no longa 'Night Of The Living', que ainda não chegou aos cinemas.


Atualmente, além de aguardar a estreia de 'Big Eyes' (2014), um drama biográfico sobre a pintora Margaret Keane (Amy Adams) e seus direitos autorais, Tim Burton já se prepara para o seu próximo projeto. O filme 'Miss Peregrine’s Home for Peculiar Children' é uma adaptação para os cinemas da história do livro "O Orfanato da Srta. Peregrine Para Crianças Peculiares", do autor americano Ransom Riggs.




sábado, 7 de abril de 2012

100 postagens: um tributo a Ray Harryhausen

Acredito que muitos que, como eu, nasceram na década de 80 tenham sentido um frio na barriga ao assistir as animações em Stop Motion do gênio Ray Harryhausen. Grifos, colossos, medusas, pégasus, ciclopes e dinossauros são apenas alguns exemplos que tomaram vida nas mãos de Harryhausen.

O Stop motion é uma das mais antigas técnicas de efeitos especiais do cinema: a animação quadro a quadro, também conhecida por animação dimensional, consiste em um pequeno modelo articulado que é fotografado em seqüência, enquanto um animador muda um pouco sua posição entre cada foto. Ao ser exibida uma após a outra, como em um desenho animado, tem-se a ilusão de que o modelo move-se por conta própria.

Eu gelei no confronto do centauro com o Grifo em "The Golden Voyage Of Sinbad" (A Nova Viagem de Simbad*). Obviamente, levado pela imaginação infantil eu acreditava tratarem-se de criaturas reais. O machado realmente crava no modelo articulado o que aumentava ainda mais minha angústia.

O que impressiona tanto quanto suas animações é a longevidade e saúde de Harryhausen. Com seus 92 anos ele limita-se a realizar pequenas pontas (homenagens) em filmes e documentários, Ray Harryhausen deixou um inigualável legado no cinema, e como seu mestre Willis O´Brien, foi o ídolo e a inspiração de jovens que dedicaram toda seu esforço e criatividade à arte da animação dimensional. Para muitos, e principalmente para nomes como Jim Danforth (Quando os Dinossauros Dominavam a Terra), David Allen (O Enigma de Outro Mundo*, O Jovem Sherlock Holmes) e Phil Tippett (Star Wars Episódio V: O Império Contra-Ataca*, Robocop*), um novo mundo foi descoberto quando assistiram, maravilhados, o Ciclope e o Ymir fazerem coisas somente possíveis nesses filmes fantásticos, que foram exibidos nas melhores matinês de todos os tempos. Ray Harryhausen ganhou o Oscar em 1991 (Prêmio Gordon E. Sawyer), pelos avanços que proporcionou nas técnicas de efeitos visuais especiais. Peter Jackson, demonstrando todo o seu respeito pelo veterano mestre, convidou-o para ser consultor de efeitos visuais em sua versão de King Kong. Mais do que uma tarefa, uma bem merecida homenagem a este velho senhor que maravilhou milhões de espectadores, por muitas décadas.

P.S. Nos filmes com a participação das criaturas de Harryhausen, a única vez que fiquei mais impressionado com uma atuação do que os efeitos especiais desse gênio foi com a aparição da estonteante Raquel Welch em "One Million Years B.C." Meu Deus o que que era aquilo? Acho que foi nesse dia que eu cruzei a fronteira da puberdade!

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Maior bilheteria da carreira de Woody Allen, Meia-noite em Paris ganha “relançamento” nos Estados Unidos

Mesmo competindo com os blockbusters do verão americano, Meia-noite em Paris conseguiu US$50 milhões apenas nos cinemas dos Estados Unidos e se tornou a maior bilheteria da carreira de Woody Allen. Ainda assim, a Sony Pictures Classics acredita que pode conseguir mais com o filme e prepara agora um “relançamento” no circuito americano.
O filme, que está hoje em cartaz em cerca de 250 salas no país, deverá ter seu circuito ampliado para 1.000 salas a partir do dia 26 de agosto. O esforço se deve às ótimas críticas e ao boca-a-boca favorável que Meia-noite em Paris teve e serve para impulsionar a campanha por indicações aos principais prêmios da temporada, inclusive o Oscar.
- Temos planos para que ele concorra a prêmios em muitas categorias, inclusive Melhor Filme – explicou Tom Bernard, co-presidente da Sony Pictures Classics. – E sentimos que o momento é ótimo para lançar uma campanha que diga ” é sua última chance, veja o filme uma segunda vez e leve um amigo a Paris”.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Akira Kurosawa - 100 anos

Estamos celebrando este ano o centenário de Akira Kurosawa, um gênio do cinema. Recentemente eu e o outro escritor desse blog o Vinicius assistimos ao clássico: Sete Samurais. O filme é impressionante e quebra qualquer preconceito contra o cinema japonês. É um bom momento para recordá-lo e também seus melhores filmes. Sua vida é cercada de polêmicas pois, apesar de ser aclamado em todo o mundo no Japão ele é visto como um diretor mediocre. Este fato levou-o a tentar suicídio em 1970. Vamos aos fatos:

Akira Kurosawa - (1910-1998).

Universalmente admirado e idolatrado como um mestre, mas desprezado no Japão como um cineasta secundário e irascível. Uma mágoa profunda que marcou sua vida. Ele chegou a tentar o suicídio em 1970, quando não conseguiu dinheiro para um filme, que, felizmente terminou pacificamente com o apoio dos mais jovens diretores americanos (Coppola, Spielberg, Lucas, Scorsese) que o ajudaram a conseguir dinheiro americano para fitas como Sonhos e Kagemusha.

Sua última fita Madadayo era obviamente autobiográfica e mostrava que ele havia feito as pazes com o mundo, sem abdicar de seu orgulho de mestre. De qualquer forma é a Kurosawa que se deve a descoberta no exterior do cinema nipônico com o sucesso de Rashomon e depois de Os Sete Samurais (que popularizaram o gênero samurai, depois adaptado até para o faroeste). Mesmo porque outros grandes diretores contemporâneos a ele (como Mikio Naruse, Mizoguchi), são por demais orientais para consumo externo.

Uma revisão de sua obra inicial confirma seu status de um cineasta irretocável. Preferir um filme dele a outro é mera questão de gosto pessoal. Um grande artista. Foi revelado internacionalmente com o sucesso de Rashomon – Leão de Ouro em Veneza e Os 7 Samurais, cujo sucesso nos Estados Unidos foi tão grande que foi adaptado em western e virou o filme Sete Homens e Um Destino (de John Sturges, 1960). Começou como pintor e ilustrador de revistas, fazendo anúncios publicitários.

Foi assistente de direção de Yamamoto e escreveu uma série de argumentos (mais de 20, entre 1942-65). Sobre ele, a opinião de Georges Sadoul parece definitiva: neste grande autor, a violência intervém com frequência, mas como manifestação de cólera e revolta contra as injustiças sociais de ontem e hoje, é um humanista colocado a serviço de um ideal. Seu sentido plástico, sua direção de atores, sua mise-en-scène perfeita, sua montagem rigorosa, tudo isto o consagra como um grande cineasta.

Superada a crise de 1970, dirigiu, na União Soviética (que entrou como co-produtora), Dersu Uzala, que ganhou o Oscar de Filme Estrangeiro. Com a ajuda de Coppola, realizou um grandioso retorno aos temas do Japão medieval em Kagemusha. A seguir, adaptou a clássica peça de William Shakespeare (O Rei Lear) e filmou uma de suas melhores obras, Ran (Kurosawa já havia adaptado Shakespeare em Trono Manchado de Sangue, inspirado em Macbeth). Sua posição de um dos maiores cineastas de todos os tempos permaneceu, assim, inalterada.

Uma história original sua foi filmada por Konchalovsky em 1985: Expresso Para o Inferno. Sempre apoiado pelos amigos americanos, em 1990, conseguiu fazer um filme em episódios tão pessoal que se chamou Sonhos de Kurosawa. O ator americano Richard Gere faria participação especial no filme seguinte, Rapsódia em Agosto, 1991, uma discutível acusação aos americanos por terem lançado as bombas atômicas no Japão. Seu último filme foi uma despedida coerente, Madadayo, 1993, na história autobiográfica de um velho mestre que se despede dos alunos, embora ainda diga, como numa velha canção japonesa, que ainda não está pronto para morrer.

Faleceu em setembro de 1998, justamente quando acontecia o Festival de Veneza, que o revelara para o mundo ocidental. Ganhou Oscar Especial pela carreira em 1989. Conheci Kurosawa em coletivas em Nova York e Cannes mas também numa entrevista exclusiva em Cannes, mas foi uma frustração porque não entendia nada do japonês. Ele respondia e eu ficava com cara de bobo esperando a tradutora que em geral reduzia o sentido do que ele respondeu. Era um senhor muito educado, como bom japonês, muito discreto. Falava através de seus filmes.

Dir.: 1943 – Sugata Sanshiro (Denjiro Okochi). 1944 – A Mais Bela (Ichiban Utsukuchiku. Yoko Yaguchi). 1945 – Zoku Sugata Sanshiro (Susumu Fujita). Os Homens que Pisaram na Cauda do Tigre (Tora no O Fumo Otokotachi. Denjiro Okochi). 1946 – Asu o Tsukuru Hitobito (Kenji Susukida). Não Lamento Minha Juventude/Juventude sem Arrependimento (Waga Seishuni Kuinashi. Susumu Fujita). 1947 – Um Domingo Maravilhoso (Subarashiki Nichiyobi. Kaoru Numazaki). 1948 – O Anjo Embriagado (Yoidore Tenshi. Takashi Shimura). 1949 – Duelo Silencioso (Shizukanaru Ketto. Toshiro Mifune). Cão Danado (Nora Inu. Toshiro Mifune). 1950 – Escândalo (Shubun. Toshiro Mifune). Rashomon (Idem. Toshiro Mifune, Machiko Kyo). 1951 – O Idiota ou Hakuchi, o Idiota (Hakuchi. Masayuki Mori, Toshiro Mifune). 1952 – Viver (Ikiru. Takashi Shimura). 1954 – Os Sete Samurais (Shichinin no Samurai. Toshiro Mifune).

Anatomia do Medo ou Registro da Vida de Um Homem (Ikimono no Kiroku. Toshiro Mifune). 1957 – Trono Manchado de Sangue (Kumonosu-Jo. Toshiro Mifune). Ralé (Donzoko. Ganjiro Nakamura). 1958 – A Fortaleza Escondida (Kakushi toride no San akunin. Minoru Chiaki, Toshiro Mifune). 1960 – Homem Mau Dorme Bem (Warui Yatsu Hodo Yoku Nemuru. Toshiro Mifune). 1961 – Yojimbo (Idem. Toshiro Mifune). 1962 – Sanjuro (Idem. Toshiro Mifune). 1963 – Céu e Inferno (Tengoku To Jigoku. Toshiro Mifune). 1965 – O Barba Ruiva (Akahige. Toshiro Mifune). 1970 – Dodeskaden (Idem. Yoshikata Zusai). 1975 – Dersu Uzala (Idem. Maxime Mounsouk, Youri Solomine). 1980 – Kagemusha, a Sombra do Samurai (Kagemusha. Tatsuya Nakadai, Tsutomo Yamazaki). 1985 – Ran (Idem. Tatsuya Nakadai, Akira Terao). 1990 – Sonhos de Kurosawa (Akira Kurosawa's Dreams/ Yume. Akira Terao, Mitsuko Baisho). 1991 – Rapsódia em Agosto (Rhapsody in August/ Hachigatsu no Kyoshikyok. Richard Gere, Hisashi Igawa). 1993 – Madadayo (Idem. Hisashi Igawa, Tatsuo Matsumura.

Os grandes filmes:

Rashomon (Idem, 50). Elenco: Toshiro Mifune, Machiko Kyo, Masayuki Mori, Takashi Shimura, Minoru Chiaki, Kichijiro Ueda, Fumiko Honma.

Sinopse: No século XI, num dia de chuva, três homens conversam em um lugar destruído. Um lenhador, um místico e um homem comum. Comentam sobre um julgamento envolvendo o estupro de uma mulher por bandido e o assassinato de um samurai pelo marido dela. Mas as diferentes versões se contradizem. Até quando um espírito se incorpora em médium, para relatar a verdade definitiva.

Comentários: O primeiro grande sucesso internacional de Kurosawa, num filme muito imitado (os americanos o refilmaram como Quatro Confissões/ The Outrage, 1964, de Martin Ritt, com Paul Newman, Claire Bloom e Laurence Harvey). Principalmente por sua estrutura, com narrativas contraditórias, provando que a verdade é uma coisa muito relativa.

Indicado para o Oscar de Direção de Arte, foi premiado com um Oscar especial (não havia ainda a categoria de Filme em Língua Estrangeira). Também ganhou o Leão de Ouro e prêmio da Crítica no Festival de Veneza. Tem uma notável fotografia, ousada, com câmera na mão e luz natural que diferencia as diversas versões da história. Uma autêntica obra-prima e um filme seminal. O título original quer dizer Na Floresta.

Os Sete Samurais (Shichinin no Samurai, 1954)

Com Toshiro Mifune, Takashi Shimura, Yoshio Inaba, Seiji Miyaguchi, Minoru Chiaki, Daisuke Kato, Ko Kimura, Kamatari Fujiwara, Kuninori Kodo, Bokuzen Hidari.

Sinopse: Camponeses que vivem numa vila no século 16 resolvem contratar sete samurais para protegê-los contra os ataques anuais dos bandidos.

Bastidores: Rodado entre 1952 e 53, nos estúdios da Toho, era o filme favorito do diretor e um grande sucesso internacional responsável por tornar famoso o gênero “filme de samurai”. Sua proposta era fazer uma grande diversão e muitos acharam que ele tinha um ar de faroeste, tanto que mais tarde ele foi refilmado como Sete Homens e um Destino (The Magnificent Seven, 60) de John Sturges, com Yul Brynner, Steve McQueen, James Coburn (e que depois teve três continuações, foi transformado em série de TV e ainda mais tarde refeito como telefilme. Ainda foi transposto para o espaço na fita Mercenários das Galáxias/Battle Beyond the Stars, de Jimmy T. Murakami,1980).

Kurosawa nunca gostou de nenhuma delas. A fita foi distribuída originalmente nos EUA com sua versão de 141 minutos quando no original tem 208!. Ganhou Prêmio Especial do Júri em Veneza. Foi o sétimo filme do diretor com seu ator preferido, Toshiro Mifune (1920-97), que aqui faz Kikuchito (com quem ainda voltaria a trabalhar em mais nove fitas, até terem uma briga e inimizade).

Comentários: Os Sete Samurais teve enorme influência em todo o mundo, mesmo que na estreia não tenha sido entendido pela maior parte da crítica. Realizado com muitas dificuldades (levou mais de ano em produção e foi por causa desta fita que ele ganhou seu apelido de “tenno/imperador”), o filme pretendia ser de época (jidai-geki) mas também divertido, bem humorado, movimentado, eletrizante, épico mas sempre dizendo muito sobre a natureza humana.

Deve ter sido um choque para os não familiarizados com a cultura japonesa na época, entender o código samurai, a maneira de representar dos atores, o gestual diferente, a ação mais violenta do que era costume no Ocidente. Mas tudo dentro de uma mensagem generosa (os guerreiros se sacrificam pelos camponeses, por aquilo que acham certo).

O fato é que superando o mero exotismo, Os Samurais de Kurosawa tem cenas de luta e ação espetaculares, uma fotografia esplêndida, uma direção de arte fenomenal (até indicada ao Oscar). Chamá-lo de um faroeste oriental é até uma ofensa. Tomara que os cowboys tivessem os códigos de honra e habilidades dos samurais e as cenas de ação fossem coreografadas de forma tão espetacular. O inverso é que seria mais correto.

Trono Manchado de Sangue **** (Kumonosu-Jo, 57)

Elenco: Toshiro Mifune, Isuzu Yamada, Takashi Shimura, Akira Kubo, Yoichi Tachikawa, Minoru Chiaki, Takamaru Sasaki.

Sinopse: Japão, século 16. Durante as guerras civis, dois samurais encontram profeta que anuncia o futuro de Washizu. Ele se converterá no senhor do castelo do Norte.

Comentários: Este é um dos melhores filmes do mestre Kurosawa. Brilhante adaptação de Macbeth, de Shakespeare, que teria inspirado Star Wars de George Lucas. Segue o texto original, desde o começo, com o encontro da bruxa na floresta, que desencadeia a ambição da mulher de um deles, que faz o marido matar o dono de um castelo, tomar seu lugar e matar o amigo. O remorso e o excesso de poder irão deixar suas marcas. Um grande texto num filme de grande beleza visual, nipônico e universal ao mesmo tempo.

Homem Mau Dorme Bem ****

Warui Yatsu Hodo Yoku Nemuru,1960.

Elenco: Toshiro Mifune, Takashi Shimura, Masayuki Mori, Kyoko Kagawa, Tatsuya Mihashi, Takeshi Kato, Kamatari Fujiwara.

Sinopse: Executivo em ascensão e de passado obscuro casa-se com a filha do presidente de uma empresa habitacional do governo, alvo de denúncias de corrupção, cujos funcionários estão morrendo misteriosamente.

Comentários: Após uma sucessão de filmes épicos e de aventura, Kurosawa resolveu inaugurar sua produtora com um projeto diferente, com conteúdo social e abordando um tema que o interessava, a corrupção na sociedade japonesa. Daí essa intrincada trama policial que se passa no mundo corporativo do Japão dos anos 60, em uma empresa pública da construção civil onde a diretoria cria situações para obter propinas e enriquecer.

O astro Toshiro Mifune (1920-97) faz o executivo de passado desconhecido que se casa com a filha aleijada do presidente da empresa, aparentemente por interesse. Mas claro que há algo mais. O filme já começa mostrando a maestria de Kurosawa, na sequência do casamento onde, habilmente, ele resume para o público toda a situação, os personagens, os conflitos que se seguirão. E que ele desenvolve com ritmo rápido e nervoso, muitas reviravoltas e uma sutil relação com uma de suas peças prediletas, Hamlet.

Yojimbo**** (Idem, 1961)

Diretor: Akira Kurosawa

Elenco: Toshiro Mifune, Tatsuya Nakadai, Kamatari Fujiwara, Takashi Shimura, Seizaburô Kawazu, Isuzu Yamada, Hiroshi Tachikawa, Kyu Sazanka.

Sinopse: Em 1860, no fim da Era Tokugama, um Ronin, ou seja, um samurai sem chefe chamado Sanjuro chega à vila de Manome que está dividida entre duas facções. De um lado o fabricante de sakê Tokuemon que recrutou um grupo de ex-prisioneiros, do outro, o comerciante de seda Tazaemon. Sanjuro se oferece a quem pagar mais, jogando um grupo contra o outro.

Comentários: Um dos grandes filmes de samurai da história, seguido pela continuação Sanjuro do ano seguinte. Influenciou muito o faroeste à italiana, em particular Por um Punhado de Dólares, que o diretor Sergio Leone copiou sem autorização (e por isso foi processado).

Tem uma trilha musical original, meio jazzística e estilizada, grandes cenas de luta (ângulo original, geralmente visto de cinema), momentos clássicos (o cachorro levando a mão humana na boca) e a presença formidável de Mifune, ator preferido do diretor. Yojimbo, quer dizer guarda-costas e o filme também é conhecido por esse nome. Mifune ganhou como melhor Ator no Festival de Veneza e o filme foi indicado ao Oscar de Figurinos.

Sanjuro **** (Tsubaki Sanjuro, 62)

Elenco: Toshiro Mifune, Tatsuya Nakadai, Keiju Kobayashi, Yuzo Kayama, Akihiko Hirata, Reiko Dan, Takashi Shimura, Kamatari Fujiwara, Kenzo Matsui.

Sinopse: O Ronin Sanjuro treina nove jovens nobres que decidiram se levantar contra a gestão corrupta de Muroto, um chefe feudal. Mas é mais difícil dar lições de vida e filosofia do que lutas.

Comentários: Continuação de Yojimbo, retomando as aventuras do Ronin Sanjuro, só que em tom menor, com mais falatório, menos ação. Até a fotografia é mais discreta em enquadramentos e narrativa. Por outro lado, há mais ironia e delicadeza. Sem esquecer o lado filosófico e espiritual.

Dersu Uzala ***** (Idem, 74)

Elenco: Maksim Munzuk, Yuri Solomin, Suimenkul Chokmorov, Svetlana Danilchenko, Dima Kortitschew, Vladimir Kremena, Aleksandr Pyatkov.

Sinopse: Em 1910, o capitão russo Vladimir Arseniev procura o túmulo de seu amigo Dersu Uzala e recorda, quando em 1902, fez uma expedição topográfica na Sibéria, ajudado por esse camponês mongol que lhe guiou.

Comentários: Depois de uma tentativa de suicídio, porque não conseguia financiamento para seus filmes, Akira Kurosawa teve que ir para a União Soviética para poder realizar este filme que lhe daria o Oscar de Fita Estrangeira. É de uma incrível poesia e plasticidade. Passa-se no começo do século, numa “taiga” siberiana, com um jovem cientista russo em expedição e o seu guia, um inculto, mas sábio caçador.

Uma meditação sobe a relação homem-natureza de enorme beleza. Sempre foi visto antes deformado pelos enquadramentos (widescreen sem ajuste do Pan & Scan, só se via a imagem central e destruía o resultado). A cópia atual demonstra instabilidade da cor, o que é compreensível por se tratar de um filme russo rodado em locações. Inspirado em fatos reais, tem narrativa lenta principalmente quando Dersu vai morar na cidade com o amigo.

Ran ***** (Idem, 1985)

Elenco: Tatsuya Nakadai, Akira Terao, Jinpachi Nezu, Daisuke Ryu, Mieko Harada, Yoshiko Miyazaki, Masayuki Yui, Kazuo Kato.

Sinopse: No século 16, no Japão feudal, um velho e grande Lorde de um clã, decide dividir o seu poder entre os filhos. O mais jovem contesta a decisão e é banido. Os mais velhos expulsam o pai que enlouquece e é protegido pelo filho rejeitado.

Comentários: Por muitos anos, Kurosawa pensou em fazer essa adaptação de Rei Lear, de Shakespeare. Como de costume, desenhou o filme antes, plano a plano, imagem por imagem, como se fossem pinturas. O filme ganhou o Oscar de Figurino e foi indicado a Fotografia, Diretor e Direção de Arte. O resultado foi sua última obra prima, um filme magnífico. Ran significa desordem, caos. Na adaptação, Kurosawa mudou o sexo dos personagens.

Agora são três filhos, e por consequência, o maior vilão é a uma mulher que procura vingança. Os primeiros 45 minutos são de uma secura intencional (imagens acadêmicas e estáticas difíceis de suportar). Mas acontece então a mais bonita cena de batalha da história do cinema: cinco minutos onde só se escuta música enquanto mostram imagens brilhantes, de tirar o fôlego.

Dali em diante, o ritmo melhora. O personagem da mulher vingativa é extraordinário e o final é emocionante. Toda a condição humana é dissecada nesta simples cena final.

Sonhos **** (Yume/ Akira Kurosawa’s Dreams, 90)

Elenco: Akira Terao, Mitsuko Baisho, Mieko Harada, Mitsunori Isaki, Yoshitaka Zushi, Hisashi Igawa, Chosuke Ikariya, Martin Scorsese.

Sinopse: Oito episódios: Sol em meio a Chuva é uma alegoria visual em que um menino vê um casamento de raposas. O Pomar de Pêssegos, o mesmo garoto encontra o espírito de pessegueiros que foram cortados por humanos. A Nevasca, equipe de alpinistas é salva por uma figura fantasmagórica. O Túnel, um homem encontra os fantasmas de um pelotão, de cuja morte ele foi o responsável. Corvos, um estudante de arte encontra Van Gogh. Monte Fuji em Vermelho, acidente nuclear ameaça o Japão. O Demônio Chorão, um retrato do mundo pós guerra nuclear, habitado por mutantes. O Povoado dos Moinhos, uma vila cuja população está em sintonia com a natureza.

Comentários: Se Fellini podia se dar ao luxo de colocar na tela sua fantasia, porque não o maior cineasta do Japão? Foi preciso que Steven Spielberg funcionasse como apresentador deste projeto e outro diretor famoso, Scorsese, fizesse o papel do pintor Van Gogh, para que ele se tornasse realidade. É usado como epígrafe a frase “Uma vez tive um sonho...”, que serve de introdução para os diversos delírios.

Alguns chegam a ser ingênuos na sua preocupação com a guerra nuclear e o destino da humanidade, e seu visual é tão precário que parece ser proposital. Em compensação, alguns episódios são deslumbrantes, em particular os dois primeiros e o último, que tem algo de Felliniano na sua procissão de uma bandinha rural. Para um cineasta de 80 anos, o filme é resplandecente de beleza e vitalidade.

Madadayo **** (Idem, 93).

Elenco: Tatsuo Matsumura, Kyoko Kagawa, Hisahi Igawa, George Tokoro, Masayuki Yui, Akira Terao, Asei Kobayashi, Takeshi Kusaka.

Sinopse: As duas últimas décadas da vida do professor Hyakken Uchida, que se aposenta nos anos da guerra. Seus alunos fazem com ele um ritual de aniversário chamado “Mahda-Kai?” (Você está pronto?). Para que ele responda, “Madadayo” (ainda não).

Comentários: Este que foi o último filme do mestre Kurosawa, já realizado quando estava bastante doente. Por isto é visto como uma despedida, um acerto de contas (bem positivo) mais do que uma autobiografia, já que é baseado em livro alheio (de H. Uchida).

Embora haja outros filmes sobre professores e alunos, no estilo Adeus Mr. Chips, este evita qualquer sentimentalismo. É lento, poético, bem oriental. É preciso conhecer e ter ligações com a cultura japonesa para entender melhor a relação deste Sensei com seus alunos.