quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Encontros e desencontros


Sofia Coppola é uma diretora de sensibilidade ímpar. Confesso que gostei muito de seu primeiro filme: Virgens Suicidas, mas foi com Encontros e Desencontros que me apaixonei por ela. Seus filmes não são de cair no gosto popular, retratando um cotidiano vazio e tedioso, o filme pode acabar taxado de chato. Acredito que isso aconteceu com seu último filme: Somewhere onde existe um vazio hipertrofiado. Encontros e Desencontros, por outro lado, tem o time certo. Como Vinicius, colaborador deste blog sempre repete: "chatice é uma questão de time", se você sabe a hora certa de parar, não fica chato.


A inadaptação dos personagens em suas respectivas realidades tornou-se o tema mais recorrente na obra da cineasta. Quem nunca se sentiu assim? Deslocado dentro dessa enorme máquina que nos obriga a agir como pequenas e mecânicas engrenagens. Cada dia temos mais movimentos Slow. Slowfood, para que as pessoas voltem a comer em paz e com calma. Já ouvi falar até de Slowculture, para que não tenhamos mais a obrigação de escrever (e ler) compulsivamente.

Com um roteiro muito bem escrito, uma trilha sonora fantástica, ótimas tomadas e excelentes atuações, o filme consegue representar o isolamento social do indivíduo contemporâneo, que não consegue se encontrar nos relacionamentos que constrói, nem no convívio diário com pessoas estranhas, tão pouco no trabalho que realiza.


Um ator entediado e uma filósofa (hehehe) sem emprego são o eixo do filme. Ambos estão completamente entediados, infelizes e incomunicáveis em um país estranho. Isto acaba sendo apenas uma metáfora do que são suas vidas pessoais.

Já na primeira conversa, que acontece no bar do hotel, nasce entre eles um profundo sentimento de empatia, cumplicidade e identificação. O fato de estarem juntos, ameniza a dor provocada pela solidão.


Bill Murray dá um show de interpretação, sua expressão facial parece concretizar a angústia existencial e a solidão de seu personagem. Isto fica evidente já na primeira sequência do filme, que mostra sua chegada a Tóquio, uma cara amassada, o cansaço do vôo, o aspecto surreal da capital do Japão com todos seus letreiros luminosos. Scarlett Johansson está belíssima na pele de uma filósofa frustrada. Com o marido completamente envolvido no trabalho ela tenta se encontrar passeando pela cidade: conhece templos, shoppings eletrônicos e, nas cenas retiradas do filme, interage com robôs. Ao se deparar com o vazio ela entra em desespero.

Encontros e Desencontros não agrada a qualquer um, pois exige sensibilidade, coisa rara hoje em dia com filmes de explosões, efeitos especiais, mortes e finais autoexplicativos. O filme me causou uma identificação imediata. Recomendo, mas não para todos! Só para quem eu gosto e, obviamente, reconheço alguma sensibilidade e inteligência.

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