domingo, 23 de setembro de 2012

O Encouraçado Potemkin

Foi na Universidade Federal de Ouro Preto, com o professor Henrique Carneiro que eu perdi o medo de me lançar aos clássicos. Sempre li resenhas, análises dissertativas, mas nunca os clássicos analisados. Até que fiz uma matéria sobre Freud com este professor. O texto: "O mal-estar da civilização" me fez perceber que os clássicos (na maioria das vezes) são muito mais descomplicados do que as análises feitas sobre eles. Acredito que esse foi o primeiro passo para me lançar a todo tipo de cânone, seja na literatura, na história ou no cinema.

O Encouraçado Potemkin é o tipo de filme clássico que transformou perspectivas no mundo audio-visual. A sequência da escadaria de Odessa foi uma das cenas mais angustiantes do cinema. A população, sensibilizada com os revoltosos do encouraçado levam comida, água, remédios e todos os tipos de suprimento ao navio. No entanto, toda a euforia é contida pelas tropas do Czar que disparam suas armas contra a população avançando em um ritmo mecânico e inexorável, alheios a toda destruição e desespero.



Uma das cenas mais marcantes ocorre quando uma mãe tenta fugir desesperadamente com seu bebê. Ela é atingida e o carrinho desce degrau por degrau delineando um caminho entre os corpos. Nesta sequência a montagem deixa evidente a impotência popular diante do irracional poder tirânico. É possível interpretar aquela criança como o futuro, o porvir utópico que está ameaçado pela brutalidade da decadente aristocracia russa. Apesar da edição não nos permitir saber ao certo o que aconteceu com a criança, a película deixa algo em aberto, como se pudesse ser futuramente reparado, uma incitação a todos os espectadores.Aliás, muitos críticos dizem que a famosa cena do carrinho de bebê de "Os Intocáveis" foi retirada daqui. Sinceramente, eu também acho. 

Ao analisarmos o filme dentro de seu contexto histórico o "Encouraçado Potemkin" foi extremamente revolucionário. Qualquer pessoa, mesmo sem qualquer inclinação política, pode sensibilizar-se com a penúria dos marinheiros ou com o massacre da população em Odessa. Isso faz desse filme uma linguagem revolucionária universal. Talvez por este motivo, após o golpe militar de 64, o filme foi censurado e banido das salas de exibição no Brasil. Aliás, em nosso país, este filme poderia fazer aflorar fantasmas ainda recentes: A revolta da Armada em 1893 e a Revolta da Chibata de 1910.


Um comentário:

  1. Foi o primeiro clássico que vi. Mas faz tanto tempo, que não lembro do que se trata o filme.

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