sábado, 25 de maio de 2013

Somos tão Jovens - crítica: filme pra você sair do cinema querendo montar uma banda


Musicalmente eu nasci em uma das melhores décadas: os anos 80: Cazuza, Renato Russo, Engenheiros em sua melhor fase. Recentemente o cinema parece ter descoberto nesses personagens enredos para ótimos filmes. Em cartaz nos cinemas, Somos Tão Jovens, de Antonio Carlos da Fontoura, sobre a vida de Renato Russo, comete exatamente o mesmo erro de Cazuza–O Tempo Não Pára, de Sandra Werneck e Walter Carvalho, de 2004: tentam amenizar a homossexualidade de ambos. 

Cazuza e Renato Russo se foram cedo deste mundo, vítimas da Aids: Cazuza, em 1990; Renato, em 1996. Em sua vida louca, vida breve, nenhum dos dois jamais almejou ser modelo de comportamento para ninguém. Qual é! Renato brigou do palco com um estádio inteiro, o Mané Garrincha, em 1988. Cazuza mostrava a bunda para a platéia em suas últimas apresentações. Eram autênticos, verdadeiros, viscerais. Nunca abriram mão de suas convicções e de sua loucura poética, até o último momento.

Frejat fez a seguinte observação: “Nunca vi prática heterossexual nele. Teve, sim, mas quando não estava completamente convencido de ser gay, bem antes de me conhecer”. Sintomaticamente, Ney Matogrosso, amigo íntimo e ex-namorado de Cazuza, simplesmente desapareceu da versão final.

Ao ler "Renato Russo - o filho da Revolução" torna-se claro que ele era muito menos comportado (para dizer o mínimo) do que o garoto sensível e “família” retratado no filme. E que, apesar de ter escrito “gosto de meninos e meninas”, seus casos mais notórios sempre foram com homens. Em Somos Tão Jovens, provavelmente também para fugir da censura 18 anos, como aconteceu com o filme de Cazuza, a questão gay se transforma em algo lateral na vida de Renato e a história se centra em uma personagem feminina que nunca existiu ( (na verdade ela é uma fusão de 3 amigas do cantor).

Não acho que homossexualismo precise ser militado nas telas, mas poxa, tem que representar o personagem real: na trama Renato transa com Aninha, mas não aparece beijando um homem na boca nem uma só vez no filme, como se fosse bacana para uma obra cinematográfica se pautar pelos mesmos (e condenáveis) parâmetros das novelas das nove globais, filme não precisa de censura!



Quase que precisamos pedir piedade, senhor piedade, para esses diretores caretas e covardes de não representarem esses dois ícones gays dos anos 80 com a fidelidade que mereciam. Eram gays e loucos. Não entendi porque retratar um personagem e suavizar (leia-se mentir) uma biografia.

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